Museu Romântico - pensamentos

sábado, 17 de novembro de 2012

GLOSSÁRIO DE SÍMBOLOS




Símbolo: signo estabelecido convencionalmente, como uma metáfora, que opera por analogia ou contiguidade com o referente.

Os símbolos revelam os segredos do inconsciente, conduzem aos lugares mais recônditos e misteriosos, abrem o es­pírito para o desconhecido e para o infinito. Todos utilizamos símbolos – na linguagem, nos gestos, nos sonhos.
A expressão simbólica traduz o esforço do homem para decifrar e compreender um destino que lhe escapa, através das realidades obscuras que o rodeiam.


Significação de alguns símbolos:

Chuva - agente fecundador do solo, graça, sabedoria. Reúne os símbolos do fogo e da água, fertilização especial e material.
Cinzas - morte, penitência, renúncia, dor.
Cores:
Amarelo - intensidade, violência (a mais quente, a mais ardente das cores). Em função das tonalidades (claro/escuro) pode simbolizar: juventude, fertilidade ou declínio, abismo, morte.
Azul - a mais fria, profunda e imaterial das cores. Caminho para o infinito, o inacessível, o sonho.
Branco - cor neutra, passiva, passagem do visível para o invisível, morte e renascimento, pureza.
Encarnado - cor ligada ao princípio da vida, a força impulsiva do amor, as virtudes guerreiras. A sua ambivalência remete para a vida e para a morte. É sinónimo de juventude, saúde, riqueza e amor.
Preto - ausência de cor, associado às trevas primordiais e à indiferença original, a passividade absoluta, morte, liga-se à ideia do mal.
Verde - cor intermédia entre o azul e o vermelho, domina no reino vegetal e na água. Simboliza a esperança, a força, a longevidade, a imortalidade.
Dia - nascimento, crescimento, plenitude e declínio de vida.
Direita - lado diurno, divino, favorável, de bom augúrio. Na tradição cristã do Ocidente significa o futuro, tem um valor benéfico, indica a direção do paraíso, o lugar dos Eleitos, no Julgamento Final. A linha direita pode ser simbolizada pela flecha, o raio, a coluna, a chuva, a espada.
Espada - estado militar, bravura, poder. Tem um valor ambivalente: destrói, mas restabelece e mantém a paz e a justiça. Associada à balança, remete para a Justiça, separa o bem do mal, castiga o culpado.
Espelho - a verdade, a sinceridade, o conteúdo do coração e da consciência, a sabedoria, o conhecimento, a inteligên­cia criativa, a revelação da identidade.
Esquerda - lado noturno, satânico, nefasto, de mau augúrio. Na tradição cristã do Ocidente significa o passado. Tem um valor maléfico. Indica a direção do inferno, o lugar dos Condenados.
Estações do ano - ritmo da vida, as etapas de um ciclo.
Primavera - nascimento.  
Verão - formação.
Outono - maturidade.
Inverno - declínio da vida, morte.
Ferro - robustez, dureza, durabilidade, solidez, inflexibilidade.
Flor - caráter fugitivo da beleza, a efemeridade e brevidade da vida, da beleza, dos prazeres.
Rosa - beleza, manifestação das águas primordiais, renascimento místico, símbolo do amor.
Fogo - purificação, regeneração, a iluminação, a destruição. Pode ter um sentido ambivalente: a destruição pode ter como objetivo a regeneração para alcançar a luz e a verdade.
Jade - soberania, poder, regeneração, símbolo portador de energia cósmica, de qualidades indestrutíveis, assegura a imortalidade.
Jardim - paraíso terrestre, estados espirituais que correspondem à presença do Homem no paraíso, natureza restaurada, restauração da natureza original do ser, equilíbrio, perfeição, beleza.
Lama - símbolo da matéria primordial e fecunda de que o Homem foi feito, ponto de partida, processo de involução, iní­cio de degradação.
Lua - reflexo do sol, dependência e princípio feminino, transformação renovadora, tempo que passa, medida dividida por fases, passagem da vida à morte e da morte à vida, conhecimento indireto, discursivo, progressivo. Evoca metaforica­mente a beleza e também a luz das trevas.
Luar - claridade da lua, o mundo de reflexo e de aparências. A lua ilumina o caminho do perigo e da imaginação.
Luz - valor complementar ou alternante da evolução da vida humana a todos os níveis, intervenção dos deuses, força, fecundante, o sagrado.
Luz do sol - expressão do poder divino, da crença e da esperança humanas.
Manhã - tempo de luz pura, pureza e promessa, hora da vida paradisíaca, a confiança em si próprio, nos outros, na exis­tência.
Mar - dinâmica da vida, lugar de nascimento, de transformações, de renascimentos. Águas em movimento: estado tran­sitório entre o possível ainda informal e a realidade formal, situação de ambivalência, de indecisão, podendo ter uma conclusão positiva ou negativa. Pode ser a imagem da vida e da morte.
Moeda - num sentido metafórico, moeda verdadeira e moeda falsa associam-se ao discernimento dos factos e aos ac­tos conforme o espírito, ao uso da fé como critério de verdade.
Trinta moedas -traição. Este símbolo evoca a recompensa dada pelos romanos ao discípulo de Cristo, Judas, quan­do trai o Mestre.
Morte -fim absoluto de qualquer coisa de positivo e de vivo, aspeto perecível e destruidor da Natureza, aquilo que de­saparece na inelutável evolução das coisas. Liga-se ao símbolo da Terra, acesso a uma vida nova de libertação das forças negativas, desmaterializa e liberta as forças ascendentes do espírito. Filha da noite e irmã do sol.
Música - manifestação de arte caracterizada pela harmonia que comanda a ordem do Universo onde o Homem se inte­gra. Remete para a ideia de perfeição.
Noite - tristeza, angústia, começo da jornada, tempo de gestação e de conspiração, imagem do inconsciente. Possui um duplo aspeto: trevas e fermento do futuro (preparação do dia).

Números:
1  (um) - verticalidade, princípio ativo, o criador, centro cósmico e místico, revelação, mediação capaz de elevar o Ho­mem, através do conhecimento. Simboliza o Homem ativo, associado à obra da criação.
2  (dois) - oposição, conflito, reflexão, equilíbrio, ambivalência, antagonismo (o criador / a criatura; o branco / o preto; o masculino / o feminino; a matéria / o espírito), a dialética, o esforço, o combate, o movimento, a rivalidade. A ima­gem dupla intensifica o seu valor simbólico, desdobrada revela as divisões internas.
3  (três) - exprime uma ordem intelectual e espiritual. Sintetiza a unidade do ser vivo.
4  (quatro) - a solidez, o tangível, o sensível, o terrestre, a totalidade, a universalidade. Representa o número de por­tas que permitem o acesso ao aperfeiçoamento místico.
5  (cinco) - união, harmonia, equilíbrio, ordem, perfeição, os cinco sentidos, a totalidade do mundo sensível. Simboliza o Homem, o Universo, a vontade divina, o casamento do princípio celeste (3) com o princípio terrestre (2), o fogo numa aceção ambivalente: dia, luminosidade / noite, trevas.
6  (seis) - a prova entre o bem e o mal, a mediação entre o Princípio criador e a manifestação.
7  (sete) - poder, pacto entre Deus e o Homem, a plenitude, a perfeição, a unidade, a realização total, consciência da vida, ciclo terminado, renovação positiva. Simboliza a totalidade do espaço, do tempo, do Universo em movimento.
8  (oito) - equilíbrio cósmico, anúncio de uma época eterna, Justiça. Simboliza a ressurreição seguida de transfigura­ção, através da graça divina.
9  (nove) - medida das gestações, das procuras futuras, coroação de esforços, número da plenitude.
10 (dez) - sentido de totalidade, é símbolo da criação universo.
12 (doze) - número das divisões espácio-temporais, simboliza o Universo na sua complexidade interna. Este número é de grande riqueza na simbologia cristã. Para os escrivães bíblicos, é o número da eleição. Representa um ciclo fechado.
13 (treze) - mau augúrio. Na Antiguidade, assumia-se como o mais poderoso e sublime dos números.
17 (dezassete) - número nefasto.
Nuvem - natureza confusa e mal definida, realidade em metamorfose. Simboliza a manifestação da atividade divina enquanto produtora de chuva, está ligada às fontes de fecundidade.
Olho(s) - conhecimento, perceção intelectual da realidade. Na tradição maçónica, o olho simboliza o sol que é luz e vida.
Olhar - instrumento de revelação da interioridade, espelho que reflete duas almas.
Os quatro elementos da Natureza:
Água - (elemento passivo e feminino) fonte e origem da vida, meio de purificação, retorno à origem. Símbolo de ferti­lidade, pureza, sabedoria, graça e virtude, totalidade de possibilidades.
Ar - (elemento ativo e masculino) símbolo de espiritualização. Está associado ao vento, ao sopro, representa o mun­do subtil intermediário entre o céu e a terra, símbolo sensível da vida invisível, um móbil universal e purificador. É o meio próprio da luz, do perfume, da cor, das vibrações interplanetárias. É a via de comunicação entre a terra e o céu. O ser aéreo é livre como o ar e, longe de se evaporar, participa nas propriedades subtis e puras do ar.
Fogo - (elemento ativo e masculino) purificação, regeneração, a iluminação, a destruição. Pode ter um sentido ambi­valente: a destruição pode ter como objetivo a regeneração para alcançar a luz e a verdade.
Terra - (elemento passivo e feminino) substância universal, a matéria-prima separada das águas. Simboliza a função maternal, a fecundidade e a regeneração, a mãe, fonte do ser e da vida, o seu contacto devolve as forças e energias.
Ouro - o mais precioso dos metais, o metal perfeito, tem o brilho da luz, reflete a luz divina, evoca o sol e toda a sua simbologia: fecundidade-conhecimento.
Pássaro - relações entre o Ser e a Terra, presságio, mensagem do céu, figura da alma libertando-se do corpo, símbolo do mundo celeste, estado espiritual, estados superiores do ser, intermediário entre Céu e Terra, poder mágico de comuni­car com os deuses.
Pedra - elemento de construção associado à sedentarização dos Homens. Estabelece uma relação íntima entre a Terra e o Céu. Símbolo da Terra-Mãe. A pedra bruta é ambivalente: se é trabalhada pela ação humana, torna-se vulgar; se é ta­lhada pela atividade celeste, enobrece.
Pena - ascensão celeste, clarividência, poder, símbolos de sacrifício.
Rio - vida e morte, descida para o oceano, retorno à indiferenciação, regresso às fontes divinas, às origens. Para os gre­gos, os rios eram divinizados como os filhos do Oceano e pais das ninfas. O rio inspirava veneração e crença. O rio dos Infernos significa os tormentos que esperam os condenados. Os rios perdem-se nos lagos e vão desaguar ao mar, simbo­lizam o curso - a existência da vida humana.
Sangue - veículo de vida, fonte de vitalidade corporal e espiritual, simboliza os valores associados à beleza, à nobreza e à elevação.
Serpente - ligada à noite das origens subterrâneas e frias, símbolo ambivalente: impede a desintegração, transmuta a morte em vida; engendra os vícios humanos, simboliza o secretismo, o orgulho, a avareza, o egoísmo, a luxúria.
Sino - música primordial da harmonia universal, apelo divino, a obediência à palavra divina, comunicação entre o Céu e a Terra. Pode simbolizar o afastamento das influências más ou o aviso da sua aproximação.
Sol - manifestação da divindade, fecundador, fonte de luz, de calor e de vida, é símbolo de ressurreição e de imortalidade. Representa o centro do céu, o centro do ser, a inteligência cósmica. É símbolo do rei e coroação do império. Fonte da vida e do conhecimento.
Sonho - não é controlado, escapa à vontade e à responsabilidade do indivíduo. Os sonhos podem ser proféticos, iniciáticos, telepáticos, visionários ou mitológicos. Estes são necessários ao equilíbrio biológico e mental.
Tambor - arma psicológica.
Viagem - verdade, paz, imortalidade, preparação para a iniciação, progressão espiritual, desejo de mudança interior, desejo de experiências novas, insatisfação e procura de novos horizontes.


Jean Chevalier, Alain Gheerbrant, Dictionnaire des Symboles, Robert Laffont, Jupiter (adaptado)

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sobre Fernando Pessoa, podes consultar









Podes começar por ver o documentário da série Grandes Livros sobre O Livro do Desassossego.














Aqui, acesso direto a toda a obra édita:











Retratos de Pessoa


Fernando Pessoa retratado por:


 Almada Negreiros





Júlio Pomar






Miguel Yeco



Fernando Pessoa




[NOTA BIOGRÁFICA] DE 30 DE MARÇO DE 1935

Nome completo: Fernando António Nogueira Pessoa.“Idade e naturalidade: Nasceu em Lisboa, freguesia dos Mártires, no prédio n.º 4 do Largo de S. Carlos (hoje do Directório) em 13 de Junho de 1888.

Filiação: Filho legítimo de Joaquim de Seabra Pessoa e de D. Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Neto paterno do general Joaquim António de Araújo Pessoa, combatente das campanhas liberais, e de D. Dionísia Seabra; neto materno do conselheiro Luís António Nogueira, jurisconsulto e que foi Director-Geral do Ministério do Reino, e de D. Madalena Xavier Pinheiro. Ascendência geral: misto de fidalgos e judeus.

Estado: Solteiro.

Profissão: A designação mais própria será «tradutor», a mais exacta a de «correspondente estrangeiro em casas comerciais». O ser poeta e escritor não constitui profissão, mas vocação.

Morada: Rua Coelho da Rocha, 16, 1º. Dt.º, Lisboa. (Endereço postal - Caixa Postal 147, Lisboa).

Funções sociais que tem desempenhado: Se por isso se entende cargos públicos, ou funções de destaque, nenhumas.

Obras que tem publicado: A obra está essencialmente dispersa, por enquanto, por várias revistas e publicações ocasionais. O que, de livros ou folhetos, considera como válido, é o seguinte: «35 Sonnets» (em inglês), 1918; «English Poems I-II» e «English Poems III» (em inglês também), 1922, e o livro «Mensagem», 1934, premiado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, na categoria «Poema». O folheto «O Interregno», publicado em 1928, e constituído por uma defesa da Ditadura Militar em Portugal, deve ser considerado como não existente. Há que rever tudo isso e talvez que repudiar muito.

Educação: Em virtude de, falecido seu pai em 1893, sua mãe ter casado, em 1895, em segundas núpcias, com o Comandante João Miguel Rosa, Cônsul de Portugal em Durban, Natal, foi ali educado. Ganhou o prémio Rainha Vitória de estilo inglês na Universidade do Cabo da Boa Esperança em 1903, no exame de admissão, aos 15 anos.

Ideologia Política: Considera que o sistema monárquico seria o mais próprio para uma nação organicamente imperial como é Portugal. Considera, ao mesmo tempo, a Monarquia completamente inviável em Portugal. Por isso, a haver um plebiscito entre regimes, votaria, embora com pena, pela República. Conservador do estilo inglês, isto é, liberdade dentro do conservantismo, e absolutamente anti-reaccionário.

Posição religiosa: Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as Igrejas organizadas, e sobretudo à Igreja de Roma. Fiel, por motivos que mais adiante estão implícitos, à Tradição Secreta do Cristianismo, que tem íntimas relações com a Tradição Secreta em Israel (a Santa Kabbalah) e com a essência oculta da Maçonaria.

Posição iniciática: Iniciado, por comunicação directa de Mestre a Discípulo, nos três graus menores da (aparentemente extinta) Ordem Templária de Portugal.

Posição patriótica: Partidário de um nacionalismo místico, de onde seja abolida toda a infiltração católico-romana, criando-se, se possível for, um sebastianismo novo, que a substitua espiritualmente, se é que no catolicismo português houve alguma vez espiritualidade. Nacionalista que se guia por este lema: «Tudo pela Humanidade; nada contra a Nação».

Posição social: Anticomunista e anti-socialista. O mais deduz-se do que vai dito acima.

Resumo de estas últimas considerações: Ter sempre na memória o mártir Jacques de Molay, Grão-Mestre dos Templários, e combater, sempre e em toda a parte, os seus três assassinos – a Ignorância, o Fanatismo e a Tirania”.

Lisboa, 30 de Março de 1935
Fernando Pessoa



In Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal, ed. Richard Zenith, Assírio & Alvim, 2003, pp. 203 - 206.

citado em http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/index.php?id=2246, consultado em  7 de novembro de 2012




Modernismo

Pablo Picasso (1881 - 1973) é um dos artistas mais representativos do Modernismo.
Estes quadros são dois exemplos marcantes da sua arte.

Les Demoiselles d'Avignon, 1907


The Weeping Woman, 1937

Para mais informação sobre este e outros artistas, consulta este sítio.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Os Lusíadas - texto integral

Fac-simile da capa e das estâncias 89 a 91 d do Canto IX de Os Lusíadas.

(Se clicares aqui poderás descarregar o texto integral do poema, 
em formato PDF, a partir de um link do sítio do Instituto Camões
A cópia pública que é disponibilizada no sítio da Biblioteca Nacional está aqui.)



O Alvará real e a licença da Inquisição


Estas páginas são, respetivamente, o alvará real e a licença do tribunal da Inquisição que autorizam a impressão de Os Lusíadas.



sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Inspiração

Olá a todos! 
Deixo aqui um texto muito atual e inspirador para o início de mais um ano letivo.
Carpe diem.





AOS ALUNOS *




Sei que para muitos de vocês hoje é o primeiro dia de aulas e para os que entraram para o jardim infantil, para a escola primária ou secundária, é o primeiro dia numa nova escola, por isso é compreensível que estejam um pouco nervosos. Também deve haver alguns alunos mais velhos, contentes por saberem que já só lhes falta um ano. Mas, estejam em que ano estiverem, muitos devem ter pena por as férias de Verão terem acabado e já não poderem ficar até mais tarde na cama.

Também conheço essa sensação. Quando era miúdo, a minha família viveu alguns anos na Indonésia e a minha mãe não tinha dinheiro para me mandar para a escola onde andavam os outros miúdos americanos. Foi por isso que ela decidiu dar-me ela própria umas lições extra, de segunda a sexta-feira, às 4h30 da manhã.

A ideia de me levantar àquela hora não me agradava por aí além. Adormeci muitas vezes sentado à mesa da cozinha. Mas quando eu me queixava a minha mãe respondia-me: "Olha que isto para mim também não é pera doce, meu malandro..."

Tenho consciência de que alguns de vocês ainda estão a adaptar-se ao regresso às aulas, mas hoje estou aqui porque tenho um assunto importante a discutir convosco. Quero falar convosco da vossa educação e daquilo que se espera de vocês neste novo ano escolar.

Já fiz muitos discursos sobre educação, e falei muito de responsabilidade. Falei da responsabilidade dos vossos professores de vos motivarem, de vos fazerem ter vontade de aprender. Falei da responsabilidade dos vossos pais de vos manterem no bom caminho, de se assegurarem de que vocês fazem os trabalhos de casa e não passam o dia à frente da televisão ou a jogar com a Xbox. Falei da responsabilidade do vosso governo de estabelecer padrões elevados, de apoiar os professores e os diretores das escolas e de melhorar as que não estão a funcionar bem e onde os alunos não têm as oportunidades que merecem.

No entanto, a verdade é que nem os professores e os pais mais dedicados, nem as melhores escolas do mundo são capazes do que quer que seja se vocês não assumirem as vossas responsabilidades. Se vocês não forem às aulas, não prestarem atenção a esses professores, aos vossos avós e aos outros adultos e não trabalharem duramente, como terão de fazer se quiserem ser bem-sucedidos.

E hoje é nesse assunto que quero concentrar-me: na responsabilidade de cada um de vocês pela sua própria educação.

Todos vocês são bons em alguma coisa. Não há nenhum que não tenha alguma coisa a dar. E é a vocês que cabe descobrir do que se trata. É essa oportunidade que a educação vos proporciona.

Talvez tenham a capacidade de ser bons escritores - suficientemente bons para escreverem livros ou artigos para jornais -, mas se não fizerem o trabalho de Inglês podem nunca vir a sabê-lo. Talvez sejam pessoas inovadoras ou inventores - quem sabe capazes de criar o próximo iPhone ou um novo medicamento ou vacina -, mas se não fizerem o projeto de Ciências podem não vir a percebê-lo. Talvez possam vir a ser presidentes da câmara ou senadores, ou juízes do Supremo Tribunal, mas se não participarem nos debates dos clubes da vossa escola podem nunca vir a sabê-lo.

No entanto, escolham o que escolherem fazer com a vossa vida, garanto-vos que não será possível a não ser que estudem. Querem ser médicos, professores ou polícias? Querem ser enfermeiros, arquitetos, advogados ou militares? Para qualquer dessas carreiras é preciso ter estudos. Não podem deixar a escola e esperar arranjar um bom emprego. Têm de trabalhar, de estudar, de aprender para isso.

E não é só para as vossas vidas e para o vosso futuro que isto é importante. O que vocês fizerem com os vossos estudos vai decidir nada mais nada menos que o futuro do nosso país. Aquilo que aprenderem na escola agora vai decidir se, enquanto país, estaremos à altura dos desafios do futuro.

Vão precisar dos conhecimentos e das competências que se aprendem e desenvolvem nas ciências e na matemática para curar doenças como o cancro e a SIDA e para desenvolver novas tecnologias energéticas que protejam o ambiente. Vão precisar do discernimento e do sentido crítico que se desenvolvem na história e nas ciências sociais para que deixe de haver pobres e sem-abrigo, para combater o crime e a discriminação e para tornar o nosso país mais justo e mais livre. Vão precisar da criatividade e do engenho que se desenvolvem em todas as disciplinas para criar novas empresas que criem novos empregos e desenvolvam a economia.

Precisamos que todos vocês desenvolvam os vossos talentos, competências e intelectos para ajudarem a resolver os nossos problemas mais difíceis. Se não o fizerem - se abandonarem a escola -, não é só a vocês mesmos que estão a abandonar, é ao vosso país.

Eu sei que não é fácil ter bons resultados na escola. Tenho consciência de que muitos têm dificuldades na vossa vida que dificultam a tarefa de se concentrarem nos estudos. Percebo isso, e sei do que estou a falar. O meu pai deixou a nossa família quando eu tinha dois anos e eu fui criado só pela minha mãe, que teve muitas vezes dificuldade em pagar as contas e nem sempre nos conseguia dar as coisas que os outros miúdos tinham. Tive muitas vezes pena de não ter um pai na minha vida. Senti-me sozinho e tive a impressão que não me adaptava, e por isso nem sempre conseguia concentrar-me nos estudos como devia. E a minha vida podia muito bem ter dado para o torto.

Mas tive sorte. Tive muitas segundas oportunidades e consegui ir para a faculdade, estudar Direito e realizar os meus sonhos. A minha mulher, a nossa primeira-dama, Michelle Obama, tem uma história parecida com a minha. Nem o pai nem a mãe dela estudaram e não eram ricos. No entanto, trabalharam muito, e ela própria trabalhou muito para poder frequentar as melhores escolas do nosso país.

Alguns de vocês podem não ter tido estas oportunidades. Talvez não haja nas vossas vidas adultos capazes de vos dar o apoio de que precisam. Quem sabe se não há alguém desempregado e o dinheiro não chega. Pode ser que vivam num bairro pouco seguro ou os vossos amigos queiram levar-vos a fazer coisas que vocês sabem que não estão bem.

Apesar de tudo isso, as circunstâncias da vossa vida - o vosso aspeto, o sítio onde nasceram, o dinheiro que têm, os problemas da vossa família - não são desculpa para não fazerem os vossos trabalhos nem para se portarem mal. Não são desculpa para responderem mal aos vossos professores, para faltarem às aulas ou para desistirem de estudar. Não são desculpa para não estudarem.

A vossa vida atual não vai determinar forçosamente aquilo que vão ser no futuro. Ninguém escreve o vosso destino por vocês. Aqui, nos Estados Unidos, somos nós que decidimos o nosso destino. Somos nós que fazemos o nosso futuro.

E é isso que os jovens como vocês fazem todos os dias em todo o país. Jovens como Jazmin Perez, de Roma, no Texas. Quando a Jazmin foi para a escola não falava inglês. Na terra dela não havia praticamente ninguém que tivesse andado na faculdade, e o mesmo acontecia com os pais dela. No entanto, ela estudou muito, teve boas notas, ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade de Brown, e atualmente está a estudar Saúde Pública.

Estou a pensar ainda em Andoni Schultz, de Los Altos, na Califórnia, que aos três anos descobriu que tinha um tumor cerebral. Teve de fazer imensos tratamentos e operações, uma delas que lhe afetou a memória, e por isso teve de estudar muito mais - centenas de horas a mais - que os outros. No entanto, nunca perdeu nenhum ano e agora entrou na faculdade.

E também há o caso da Shantell Steve, da minha cidade, Chicago, no Illinois. Embora tenha saltado de família adotiva para família adotiva nos bairros mais degradados, conseguiu arranjar emprego num centro de saúde, organizou um programa para afastar os jovens dos gangues e está prestes a acabar a escola secundária com notas excelentes e a entrar para a faculdade.

A Jazmin, o Andoni e a Shantell não são diferentes de vocês. Enfrentaram dificuldades como as vossas. Mas não desistiram. Decidiram assumir a responsabilidade pelos seus estudos e esforçaram-se por alcançar objetivos. E eu espero que vocês façam o mesmo.

É por isso que hoje me dirijo a cada um de vocês para que estabeleça os seus próprios objetivos para os seus estudos, e para que faça tudo o que for preciso para os alcançar. O vosso objetivo pode ser apenas fazer os trabalhos de casa, prestar atenção às aulas ou ler todos os dias algumas páginas de um livro. Também podem decidir participar numa atividade extracurricular, ou fazer trabalho voluntário na vossa comunidade. Talvez decidam defender miúdos que são vítimas de discriminação, por serem quem são ou pelo seu aspeto, por acreditarem, como eu acredito, que todas as crianças merecem um ambiente seguro em que possam estudar. Ou pode ser que decidam cuidar de vocês mesmos para aprenderem melhor. E é nesse sentido que espero que lavem muitas vezes as mãos e que não vão às aulas se estiverem doentes, para evitarmos que haja muitas pessoas a apanhar gripe neste Outono e neste Inverno.

Mas decidam o que decidirem gostava que se empenhassem. Que trabalhassem duramente. Eu sei que muitas vezes a televisão dá a impressão que podemos ser ricos e bem-sucedidos sem termos de trabalhar - que o vosso caminho para o sucesso passa pelo rap, pelo basquetebol ou por serem estrelas de reality shows -, mas a verdade é que isso é muito pouco provável. A verdade é que o sucesso é muito difícil. Não vão gostar de todas as disciplinas nem de todos os professores. Nem todos os trabalhos vão ser úteis para a vossa vida a curto prazo. E não vão forçosamente alcançar os vossos objetivos à primeira.

No entanto, isso pouco importa. Algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo são as que sofreram mais fracassos. O primeiro livro do Harry Potter, de J. K. Rowling, foi rejeitado duas vezes antes de ser publicado. Michael Jordan foi expulso da equipa de basquetebol do liceu, perdeu centenas de jogos e falhou milhares de lançamentos ao longo da sua carreira. No entanto, uma vez disse: "Falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E foi por isso que fui bem-sucedido."

Estas pessoas alcançaram os seus objetivos porque perceberam que não podemos deixar que os nossos fracassos nos definam - temos de permitir que eles nos ensinem as suas lições. Temos de deixar que nos mostrem o que devemos fazer de maneira diferente quando voltamos a tentar. Não é por nos metermos num sarilho que somos desordeiros. Isso só quer dizer que temos de fazer um esforço maior por nos comportarmos bem. Não é por termos uma má nota que somos estúpidos. Essa nota só quer dizer que temos de estudar mais.

Ninguém nasce bom em nada. Tornamo-nos bons graças ao nosso trabalho. Não entramos para a primeira equipa da universidade a primeira vez que praticamos um desporto. Não acertamos em todas as notas a primeira vez que cantamos uma canção. Temos de praticar. O mesmo acontece com o trabalho da escola. É possível que tenham de fazer um problema de Matemática várias vezes até acertarem, ou de ler muitas vezes um texto até o perceberem, ou de fazer um esquema várias vezes antes de poderem entregá-lo.

Não tenham medo de fazer perguntas. Não tenham medo de pedir ajuda quando precisarem. Eu todos os dias o faço. Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, é um sinal de força. Mostra que temos coragem de admitir que não sabemos e de aprender coisas novas. Procurem um adulto em quem confiem - um pai, um avô ou um professor ou treinador - e peçam-lhe que vos ajude.

E mesmo quando estiverem em dificuldades, mesmo quando se sentirem desencorajados e vos parecer que as outras pessoas vos abandonaram - nunca desistam de vocês mesmos. Quando desistirem de vocês mesmos é do vosso país que estão a desistir.

A história da América não é a história dos que desistiram quando as coisas se tornaram difíceis. É a das pessoas que continuaram, que insistiram, que se esforçaram mais, que amavam demasiado o seu país para não darem o seu melhor.

É a história dos estudantes que há 250 anos estavam onde vocês estão agora e fizeram uma revolução e fundaram este país. É a dos estudantes que estavam onde vocês estão há 75 anos e ultrapassaram uma depressão e ganharam uma guerra mundial, lutaram pelos direitos civis e puseram um homem na Lua. É a dos estudantes que estavam onde vocês estão há 20 anos e fundaram a Google, o Twitter e o Facebook e mudaram a maneira como comunicamos uns com os outros.

Por isso hoje quero perguntar-vos qual é o contributo que pretendem fazer. Quais são os problemas que tencionam resolver? Que descobertas pretendem fazer? Quando daqui a vinte ou a cinquenta ou a cem anos um presidente vier aqui falar, que vai dizer que vocês fizeram pelo vosso país?

As vossas famílias, os vossos professores e eu estamos a fazer tudo o que podemos para assegurar que vocês têm a educação de que precisam para responder a estas perguntas. Estou a trabalhar duramente para equipar as vossas salas de aulas e pagar os vossos livros, o vosso equipamento e os computadores de que vocês precisam para estudar. E por isso espero que trabalhem a sério este ano, que se esforcem o mais possível em tudo o que fizerem. Espero grandes coisas de todos vocês. Não nos desapontem. Não desapontem as vossas famílias e o vosso país. Façam-nos sentir orgulho em vocês. Tenho a certeza de que são capazes.

Obrigado. 


(* Discurso proferido pelo Presidente dos E.U.A., Barack Obama, em  Wakefield High School, Arlington, Virginia. em 8 de setembro de 2009)

Fonte: http://www.whitehouse.gov/MediaResources/PreparedSchoolRemarks/

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Retratos


Fotografia da Prof.ª Cristina  Torrão                  

Visita ao Museu Romântico

7 - Diogo_final

Um recuo no tempo

3 - Beatriz_final

Entrevista ao Rei Carlos Alberto do Piemonte e Sardenha


Fonte da imagem: http://amigos-de-portugal.blogspot.pt/2012/03/museu-romantico.html, consultado em 20/05/2012

4 - Bruno_final

Visita ao Museu Romântico - uma viagem a reviver

2 - Ana Rita_final

Visita de estudo ao Museu Romântico - enquadramento no contexto literário da obra «Os Maias - Episódios da vida romântica»

14- Lília_final